Redação do Enem: como usar repertório sociocultural sem “forçar” ou cair em modelos prontos
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Gabrielle Boeze 6 de outubro de 2025

Cartilha de Redação do Enem 2025 foi divulgada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) na última sexta-feira (3). Além das orientações já conhecidas sobre a prova, é a primeira vez que o material chama atenção para os “repertórios de bolso” e explica como eles podem impactar a nota.

Isso pode assustar alguns alunos, mas não é novidade. A presença de repertório sociocultural  “uma informação, um fato, uma citação ou uma experiência vivida que, de alguma forma, esteja relacionada ao tema e contribua como argumento para a discussão proposta”, segundo o Inep – é avaliada pela competência 2 da Matriz de Referência do Enem.

“Apesar de a informação ser nova na cartilha, a exigência de que as referências sejam pertinentes ao tema já existia. O Inep apenas clarificou a questão do repertório de bolso”, analisa Maysa Barreto, assistente pedagógica da plataforma Redação Nota 1000.

➡️ E o que é repertório de bolso? A cartilha definiu como “referências prontas, memorizadas e frequentemente utilizadas pelos(as) participantes de forma genérica e pouco aprofundada, sem uma conexão genuína com o tema proposto“. São alusões que parecem ter sido “guardadas no bolso” para serem encaixada em qualquer redação.

“Na prática, professores já adotam esse critério em sala de aula, pensando, principalmente, nas questões de pertinência do repertório e do estímulo ao pensamento crítico”, acrescenta Maysa.

Maysa observa que o exercício do senso crítico, um dos elementos fundamentais do gênero dissertativo-argumentativo, é prejudicado pela memorização. Quando o aluno apenas reproduz um modelo pronto, deixa de refletir o que está argumentando e entrega uma analogia rasa e genérica.

➡️ Por que é problemático? O problema não está em citar autores ou conceitos conhecidos por si só, mas em fazê-lo de forma superficial. Conforme a cartilha, para ser considerado produtivo, o repertório precisa:

  • ser pertinente ao assunto tratado;
  • ser bem contextualizado e articulado com os argumentos;
  • mostrar que o(a) participante sabe relacionar o conhecimento ao problema discutido.

“Se o(a) avaliador(a) perceber que o repertório foi inserido de forma decorada, automática ou forçada, ele(a) pode avaliá-lo como não produtivo, o que poderá prejudicar a nota da competência II”, diz o documento.

A orientação já vinha sendo aplicada. Em 2024, a reportagem do g1 antecipou que corretores foram instruídos pelo Inep, durante treinamentos, a descontar pontos de redações que usassem repertórios forçados ou modelos prontos.