UFF implanta saneamento sustentável em comunidade periférica
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Gabrielle Boeze 11 de setembro de 2025

A Universidade Federal Fluminense (UFF), vinculada ao Ministério da Educação (MEC), lançou o projeto Omìayê, iniciativa de saneamento comunitário que já está transformando a realidade da favela da Mangueira, na Zona Norte do Rio de Janeiro. O projeto, em parceria com o Instituto Singular, combina sustentabilidade, tecnologia de baixo custo e protagonismo comunitário para oferecer soluções eficazes de saneamento básico, mesmo em áreas com infraestrutura precária.

Por meio de uma ecofábrica, inaugurada em agosto, os moradores da Mangueira transformam óleo de cozinha usado em ecosabão e ecodetergente, enriquecidos com uma mistura viva de microrganismos, incluindo bactérias, fungos e lactobacilos, capazes de purificar a água em córregos contaminados. A partir dessa técnica de biorremediação natural, é possível reforçar os processos de depuração pelos próprios microrganismos já presentes no ambiente, restabelecendo o equilíbrio ecológico e melhorando substancialmente a qualidade da água.

Segundo Estefan Fonseca, professor do Departamento de Geologia e Geofísica da UFF, o uso desse sabão biológico reduziu o mau cheiro dos córregos em apenas duas horas, um alívio imediato para os moradores da comunidade. Além do impacto ambiental, o método fortalece a saúde pública ao inibir microrganismos nocivos, demonstrando que a iniciativa vai além da limpeza: ela também promove bem-estar físico e dignidade.

O projeto se destaca por envolver os próprios moradores em todas as etapas: desde a coleta de óleo até a produção e distribuição do sabão biológico. A participação ativa gera autonomia, consciência ambiental e oportunidades de renda local. Ao responsabilizar a comunidade pelo cuidado com o meio ambiente, o projeto trabalha para que o uso dos microrganismos se torne uma prática sustentável e conscientemente adotada.

Base científica – Inspirado em tecnologias de saneamento natural utilizadas no Japão, em políticas de biorremediação aplicadas desde 1986 na Baía de Tóquio, o método já foi testado anteriormente pela UFF em outras localidades. Um exemplo é a Lagoa Araçatiba, em Maricá (RJ), onde os resultados mostraram melhora na transparência da água, eliminação do mau cheiro e retorno da fauna bentônica, com as espécies que ocupam a lagoa aumentando de quatro para 16 em poucos meses.

Desafios  Apesar dos resultados promissores, o projeto enfrenta um desafio cultural. A palavra “bactéria” costuma ser associada a perigo, o que exige ações de comunicação eficazes. A UFF tem investido em divulgação, participação em eventos e material educativo para superar essa barreira e explicar que os microrganismos selecionados são aliados no saneamento.

A expectativa é que o modelo iniciado na Mangueira também seja implementado na Rocinha. O projeto conta com apoio federal (por meio de emenda parlamentar) e colaboração de uma universidade alemã, com o objetivo de replicar a metodologia em outras favelas e até mesmo formalizar sua adoção por meio de políticas públicas.

A UFF atua como articuladora técnica e acadêmica, fornecendo suporte científico, mobilizando recursos e legitimando o projeto perante instituições federais. Pós-doutorandos atuam diretamente na ecofábrica, e a universidade tem papel central no monitoramento e avaliação dos resultados.

Fonte: Este conteúdo é uma produção da UFF, com apoio da Secretaria de Educação Superior (Sesu/MEC)