O Laboratório Latino-americano de Avaliação da Qualidade da Educação (LLECE), ligado à Oficina Regional de Educação para América Latina e Caribe da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (OREALC/UNESCO Santiago), apresentou, nesta terça-feira, 28 de julho, um estudo que analisou currículos do Brasil e de 18 países latino-americanos: Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, El Salvador, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Uruguai e Venezuela.
Na área da linguagem, um dos aspectos mais destacados é a predominância de uma abordagem comunicativa, concentrada no uso da linguagem em diferentes contextos. O currículo brasileiro apresenta ênfase no conteúdo voltado para compreensão e leitura literal no 4º e 7º ano do ensino fundamental. O documento destaca que essa capacidade é alta em comparação com os países da América Latina e do Caribe.
O relatório busca responder à seguinte pergunta: o que se espera que os estudantes da América Latina e do Caribe aprendam? Para isso, foram investigadas as prescrições curriculares para as áreas de linguagem, matemática e ciências da natureza, além da presença de temas relevantes para o desenvolvimento sustentável, em conformidade com a Agenda 2030. Por hora, o relatório está disponível apenas em espanhol, mas uma versão em português será apresentada em agosto.
A publicação faz parte do Estudo Regional Comparativo e Explicativo (Erce) 2019, uma pesquisa em larga escala que avalia e mede as conquistas de aprendizagem de estudantes na América Latina e no Caribe. Os resultados da quarta edição do Erce, aplicada em 2019, estarão disponíveis em 2021. No Brasil, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) é o responsável pela aplicação.
Durante evento on-line, transmitido em Santiago, no Chile, a diretora da OREALC/UNESCO Santiago, Claudia Uribe Salazar, destacou a importância da união cooperativa entre os países participantes para o resultado do estudo, que levou em consideração a diversidade e o contexto de cada país analisado. “O documento que hoje apresentamos é o resultado de uma análise profunda e contextualizada do que os sistemas educativos de cada região buscam transmitir aos seus meninos e meninas. Isso permitirá que cada país possa olhar para si e questionar-se para saber se o que os seus estudantes estão recebendo em sala de aula corresponde ao que se espera que aprendam para se tornarem cidadãos exitosos do século 21”, afirmou.
Claudia Uribe ressaltou ainda que o estudo permitirá que os países analisados possam comparar as afinidades e diferenças e aprender uns com os outros, inclusive no contexto da pandemia de COVID-19. “Confiamos que as informações disponibilizadas possam ajudar também os ministérios da Educação nacionais a tomar decisões sobre quais elementos curriculares devem ser priorizados, tanto no retorno às aulas presenciais quanto por meio da educação remota”, concluiu.
Na área de leitura, destaca-se a relevância atribuída ao trabalho com diversos textos e a ênfase na compreensão leitora literal e inferencial, assim como em estratégias de leitura. O estudo aponta uma baixa presença de conceitos vinculados às áreas de decodificação e de reflexão e avaliação sobre os textos, que são habilidades especialmente relevantes atualmente, devido à disponibilidade de conteúdo de qualidade duvidosa na internet. No que diz respeito à escrita, ressalta-se a ênfase no conhecimento sobre o código e os processos envolvidos no ato de escrever, que reforçam a importância de valorizar o processo, e não só o produto escrito.
Em matemática, a conclusão é que a maioria dos currículos adere à abordagem de resolução de problemas como um elemento fundamental no ensino e na aprendizagem de matemática para lidar com circunstâncias e desafios imprevistos na vida cotidiana. Em ciências, observou-se uma ênfase na abordagem de alfabetização científica em um número significativo dos currículos analisados. Isso implica ir além da transmissão do conhecimento científico, a fim de que as pessoas possam explicar e prever os fenômenos da natureza.
No que diz respeito aos conceitos relativos à educação para a cidadania mundial, observou-se que as noções de cidadania, identidade, respeito e diversidade são encontradas em todos os currículos estudados. No entanto, o relatório alerta que há um grupo de conceitos com baixa presença na região, como os de fraternidade, felicidade, empatia, equidade de gênero e liberdade. Acerca da educação para o desenvolvimento sustentável, o relatório aponta que os conceitos de meio ambiente e sustentabilidade estão sendo trabalhados por todos os países investigados, mas outros conceitos relevantes, como reduzir, reciclar e reutilizar; entorno natural e processos sustentáveis aparecem em menos da metade dos currículos analisados.
Além de Claudia Uribe, a videoconferência também contou com a participação de Maria Victoria Angulo, ministra da Educação da Colômbia; Montserrat Creamer, ministra da Educação do Equador; Carlos Henríquez Calderón, coordenador-geral do LLECE; Carmen Sotomayor e Liliana Morawietz, pesquisadoras da Universidade do Chile; Francisco Soares, membro do Conselho Nacional de Educação (CNE) do Brasil; Gilbert Valverde, vice-diretor interino de Estratégia Global da UNESCO e decano de Educação Internacional da Universidade de Albany, em Nova York; e Vincenzo Placco, especialista em Educação do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) na América Latina e Caribe.
Erce – O Estudo Regional Comparativo e Explicativo é uma avaliação que tem como objetivo medir a qualidade da educação do ensino fundamental na América Latina e Caribe, por meio de provas e questionários aplicados a uma amostra de estudantes. Os estudos são realizados de maneira escalonada, de modo a produzir dados cronologicamente comparáveis. O Erce é uma realização do LLECE, da OREALC/UNESCO.
Fonte: INEP