O Ministério da Educação (MEC) quer cancelar o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) de 2021, alegando limitações causadas pela pandemia e pelo orçamento reduzido da pasta. Caso a suspensão realmente ocorra, será inviável implementar a nova forma de ingresso ao ensino superior prometida pelo governo: o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) seriado.
A informação, revelada pela “Folha de S.Paulo”, foi confirmada pelo G1 com fontes internas do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), que pediram anonimato.
O Saeb é composto por provas de língua portuguesa e de matemática, aplicadas a cada dois anos para os alunos das redes pública e privada do 2º, 5º e 9º anos do ensino fundamental e da 3ª série do ensino médio.
O objetivo principal é mensurar o aprendizado dos estudantes para, a partir dos resultados, elaborar políticas públicas. As provas compõem outro importante “termômetro” da educação brasileira: o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que inclui também os índices de aprovação escolar.
Caso o Saeb 2021 seja realmente cancelado, não haverá um diagnóstico da aprendizagem dos alunos na pandemia. Além disso, a implementação do Enem seriado terá de ser adiada.
Apesar das consequências, a aplicação de uma prova em todas as escolas do país demandaria salas cheias, sem distanciamento social. Não há previsão sequer para a retomada das aulas presenciais, diante do aumento de casos de Covid-19 no país.
O G1 entrou em contato com o MEC e com o Inep para saber se a decisão final já foi tomada, mas não obteve resposta até a última atualização desta reportagem.
A presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE), Maria Helena Guimarães de Castro, afirma que a pandemia realmente inviabilizaria a aplicação do Saeb para todos os alunos do país. Uma alternativa, segundo ela, seria eleger amostras de alunos.
“Seria impossível colocar todos os estudantes na sala de aula. Mas uma prova amostral poderia ajudar a ter um diagnóstico, em fevereiro de 2022, dos problemas centrais na aprendizagem”, diz.
“Sou contra calcular o Ideb neste ano, mas a favor do Saeb para alguns grupos, sem indicação de escolas e municípios nos resultados. É importante para orientar o que deverá ser feito e para não perder a série histórica de dados.”
Servidores do Inep, autarquia que organiza a prova, têm um posicionamento semelhante ao de Castro.
“Os técnicos pensam que [o Saeb] tem de ser mantido, principalmente por causa da série histórica e do Ideb, e para ter um retrato da educação diante do contexto da pandemia. Pode até ser uma versão mais reduzida, amostral, mas precisa acontecer“, afirma um dos funcionários, que pediu para não ser identificado.