“As crianças usam outras formas para expressar o que sentem, por isso, os adultos devem prestar atenção em mudanças de comportamento. Se forem alterações persistentes, o ideal é procurar um psicólogo infantil”, recomenda Calegaro.
Em Manaus, Ana Inês de Souza sugeriu que seu filho, Carlos, de 10 anos, conversasse com um terapeuta. “Expliquei que é um profissional, que não vai contar nada para mim. Mas ele disse que não quer falar com ninguém. Tento ficar ao lado dele, dar apoio, mesmo que em silêncio”, conta.
O menino chegou a retornar à escola em 2020, antes de a pandemia se agravar no Amazonas. Depois, voltou a ficar em casa. “É uma mudança muito grande na vida dele: ele era muito ativo, jogava bola no fim de semana, praticava esportes, via os amigos. Agora, ele só quer ‘maratonar’ série. Alterou o horário de dormir, está mais malcriado, irritado e desanimado”, diz Ana Inês.
Especialistas reforçam que a retomada das aulas deve acontecer apenas quando houver condições seguras e adequadas para a prevenção da Covid-19. “Mesmo com todas essas consequências emocionais, o direito à vida está acima disso”, diz Vinha.
Marta Gonçalves, professora e psicopedagoga do Instituto Singularidades, ressalta também que é preciso preparar uma reabertura que foque não só na questão sanitária e curricular, mas também no acolhimento emocional.
“Pode haver um estranhamento. Uma criança pequena talvez se desacostume a dividir o brinquedo com amigos ou a não ter mais a atenção exclusiva dos adultos. A pandemia trouxe uma privação de tudo isso”, explica.
“E o isolamento ocorreu de forma muito singular em cada casa. Há alunos que perderam o pai, a mãe, o avô. Eles estarão em um período de luto.”
Vinha dá sugestões de atividades de acolhimento na escola elaboradas por seu grupo de pesquisa na Unicamp:
- criar espaços de escuta e círculos de conversa;
- respeitar quando os alunos não quiserem falar sobre sentimentos;
- montar caixas de areia para que os alunos desenhem, com as mãos, como estão se sentindo;
- fazer uma caixa na qual as crianças possam depositar desenhos ou textos anônimos que expressem suas emoções;
- montar jogos de memória e quebra-cabeças com a temática de emoção (podem ser peças com emojis bravos, tristes, felizes…).
Em todos os casos, é preciso estar atento à necessidade de atendimentos individualizados. A escola deve acionar as redes de proteção quando julgar que um aluno está em situação de sofrimento acentuado.
Fonte: G1