Pais e filhos em tempo de confinamento social (Covid-19): juntos em casa descobrindo novas rotinas e enfrentando novos desafios*
Artigo de Opinião
Isaque Eustórgio 21 de abril de 2020

Vivemos um momento sem precedentes. De maneira disruptiva, fomos retirados da nossa rotina e obrigados a criar uma nova rotina, confinados em casa, com a nossa família. Muitos têm sido os desafios dessa nova fase, desde administrar o trabalho via “home office”, passando pelos cuidados com as tarefas domésticas e chegando naquele que talvez seja o ponto mais difícil desse momento, que é lidar com a rotina das crianças. Em primeiro lugar, explicar para as crianças que embora todos estejam juntos, não estamos em férias. Em segundo lugar, explicar que eles não irão à escola, mas a escola virá até a nossa casa e as aulas serão online, pela tela do computador. Mesmo estando diante de uma geração que possui um certo fascínio pelo tecnológico, essa não tem sido uma missão muito fácil para os pais e educadores administrarem, sobretudo para os pais com crianças menores, que frequentam a Educação Infantil. Essas crianças ainda estão em uma fase do desenvolvimento onde elas apresentam dificuldade para se concentrar por muito tempo, numa mesma atividade, portanto, ao final de duas horas de aula, essa criança certamente estará mais cansada, irritada e com o limiar de concentração bastante baixo. Quanto menor a criança, menos capacidade de tempo para fixar a atenção ela terá. Então, o que fazer? Primeiro, é importante que os pais não se cobrem tanto, e tampouco cobrem da criança que tudo dê certo, conforme foi programado e planejado pela escola e pela professora. Tudo é novo para todos, os pais não precisam se tornar exímios professores durante a pandemia do coronavírus. Todos nós estamos em uma situação inédita, de muitos desafios e equacionar todos esses desafios têm gerado estresse e ansiedade para muitos pais e professores que, de repente, se viram obrigados a lidar com novos papéis com os quais, muitas vezes, eles não se sentem preparados. O real foi abruptamente rompido e isso traz uma enorme sensação de desestabilização e estranhamento. Mas, por outro lado, exige uma certa urgência de adaptação. Sendo assim, estabeleça com a criança uma rotina de estudo, ainda que não seja exatamente nos horários das aulas online, onde ela possa executar as tarefas mais importante passadas pela escola. Nesse momento, penso que o mais importante é fortalecer e manter vivos o interesse e a motivação pelo aprender, bem como reforçar o vínculo da criança com a aprendizagem. Não se esqueça de contar com recursos lúdicos como fortes aliados nesse processo porque tudo o que não precisamos é de uma rotina engessada. Quem disse que não é possível estudar e aprender Matemática fazendo um delicioso bolo para o lanche da tarde? Aliás, mais do que nunca, precisamos do lúdico presente nessa nova rotina. O brincar precisa ter um lugar de destaque nesse contexto angustiante que estamos vivendo, atualmente. É através do brincar que a criança cria recursos para lidar e externalizar seus conflitos, medos e suas inseguranças.
Em resumo, fomos tomados por uma sobrecarga de funções e novos papéis, mas não tivemos tempo de nos prepararmos para isso, portanto não há como evitar o estresse inerente a essa situação, mas podemos aprender a manejá-lo de forma que possamos ver ao final do confinamento social, aprendizados produtivos para a nossa vida e para a vida dos nossos filhos. As relações entre pais e filhos certamente sairão mais fortalecidas e novas descobertas vão surgir. Aproveitem esse tempo para criar uma nova conexão e cumplicidade entre vocês.
Enfim, tenham calma e pratiquem a resiliência diariamente! Vai passar!

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*Luciana Delella –
Psicóloga Clínica da Infância,
Mestre em Psicologia do
Desenvolvimento pela Universidade de Brasília (UnB)