Suzana Schwerz Funghetto
Educadora Especial, Dra. em Ciências e Tecnologias da Saúde
Escutei hoje, a música “Oração ao Tempo” interpretada por Maria Gadú, juro que fiquei sensibilizada, porque sua letra me fez refletir sobre o cotidiano enfrentado por todos nessa pandemia. Nessa música o tempo é apontado como o compositor dos destinos, inventivo, contínuo, legítimo, preciso, propício, definido…
O conceito de tempo é discutido por diversos pensadores desde a antiguidade. Para Platão, o tempo era um movimento cíclico e assim tudo aquilo que acontecia no passado era repetido e retornava novamente. Aristóteles, dizia que o tempo não poderia existir, já que nenhuma das suas partes existe. Kant, colocava que o tempo é uma estrutura da relação do sujeito com ele próprio, com o mundo em um determinado espaço. Para Kant, “o tempo é uma intuição pura, no plano da sensibilidade, objetivo, não é extraído da experiência, mas sim prévio a qualquer experiência”, permitindo a noção de conhecimento.
Independente das teorias, a busca do entendimento do tempo, parece estar presente, a partir da pandemia provocada pelo COVID 19, pois o presente, o passado (que já foi frenético) e o futuro parecem se misturar em nossos pensamentos confinados.
Mas, realmente como estamos vivenciando esse tempo de isolamento provocado pela pandemia? Muitas vezes perdemos no cotidiano a noção de tempo, de dias da semana. Vivemos um sentimento de estar perto e longe, de tolerância e intolerância, em casa, no homeoffice (na maioria dos casos), com atividades escolares de nossos filhos e muitos momentos de redescobertas.
Será que a conexão entre tempo e espaço estaria naquilo que a fenomenologia contemporânea associa o tempo à atividade da consciência, da ética e novos padrões comportamento em uma sociedade globalizada? Qual será o novo contexto da escola pós pandemia? A agenda 2030 da ONU prevê o acesso ao conhecimento (que é um bem público), indissociável, sustentável e globalizado. Para bem do planeta temos de entender as idiossincrasias da nossa realidade e da realidade do mundo. Só o acesso ao conhecimento pode mudar a nossa realidade e criar um tempo melhor.
A realidade educacional brasileira nos tempos da pandemia, tem mais uma vez demonstrado as desigualdades entre o ensino público e privado em todos os níveis de ensino o que compromete qualidade da oferta do ensino. Por mais que toda a legislação aponte para a utilização de aulas remotas ( o que é fundamental) muitos estados e municípios permanecem sem aulas em escolas públicas, mostrando mais uma vez que não estamos preparados para as questões de acesso igualitário ao conhecimento. Para o seguimento de alunos matriculados no ensino privado, vemos a utilização de ambientes virtuais de aprendizagem (em muitos casos, novidade para alunos, pais e gestores educacionais). Nesse seguimento também a dificuldade de adaptação as novas tecnologias ao percurso cognitivo de alunos e professores, bem como excessos de trabalhos e falta de acompanhamento do processo avaliativo que é mediado pelo virtual.
Nesse sentido, “desponta” outro conceito de tempo que é o virtual real. Esse tempo virtual real, demarca a concepção de escola, com a utilização de novas tecnologias, apresenta novo perfil docente, discente e aponta para novo perfil de acesso ao conhecimento, que vem pelas pesquisas na internet, pelo material didático virtual, pelo WhatsApp, pelos seminários online e muitas lives.
Esse novo tempo virtual real (personificado em conhecimento instantâneo) está em constante movimento, busca incessantemente novas formas de inovação pedagógica para o momento e pós-pandemia. Essas inovações estão sendo caracterizadas pelo ensino híbrido, remoto, contínuo, diversificado, com o desenvolvimento de avaliações online. Novos modelos pedagógicos no seguimento privado estão sendo colocados em prática, com um viés mais tecnológico com o intuito de garantir a eficácia do ensino e da aprendizagem da educação que nos circunda, seja esta do segmento que for.
Mas como o tempo ( de todas as formas) não para (como em outra música, agora de Cazuza) e nada é igual ao último minuto…. (como na frase mais dita “Nesse momento…”) … vamos que vamos…. (o novo tempo virtual urge)…
Temos que entender e ao mesmo tempo modificar o presente e vislumbrar um futuro mais justo para os nossos alunos, pais e professores.
Fonte: Texto publicado na BSB Magazine