Um relatório feito pelo Banco Mundial, publicado nesta quarta-feira (17), indica que a suspensão das aulas presenciais devido à pandemia vai afetar o nível de leitura e compreensão de textos dos estudantes do Brasil.
Se, antes da pandemia, 50% dos alunos brasileiros de 15 anos estavam com nível de proficiência abaixo do mínimo, com 10 meses de suspensão de aulas, o índice chega a 64% e, com 13 meses de suspensão, a 71%.
Isso significa que 7 em cada 10 estudantes poderão não ser capazes de ler e compreender um texto de tamanho moderado.
“A leitura é como se fosse um “andaime” onde todas as demais aprendizagens vão ser construídas. Se um estudante não consegue ler bem ou compreender um texto, ele tem dificuldades para entender história, geografia, química, que dependem dessa habilidade”, afirma Ildo Lautharte, economista do Banco Mundial na área de Educação.
Este déficit de aprendizagem deverá afetar famílias de menor renda, aumentando as desigualdades. O relatório também aponta o risco de evasão, que pode ter um aumento de 15% no abandono escolar.
“Apesar de não ser possível controlar totalmente o momento certo, os governos podem e devem assegurar que seus sistemas educacionais estejam prontos para a reabertura segura e eficaz”, diz o relatório.
O relatório também destaca a importância de colocar os professores como profissionais de “linha de frente” na campanha de vacinação contra a Covid.
“Essa é uma crise da educação, com menos alarde, mais silenciosa, mas que parece terá impacto em médio e longo prazo. Tratar professor como linha de frente é bastante importante”, aponta Lautharte.
Atualmente, os professores estão em 15º na lista de prioridades da campanha de vacinação. Nesta terça (16), o ministro da Educação Milton Ribeiro pediu que eles sejam colocados em grupos mais prioritários, e afirmou que espera vacinar os professores a partir de abril.
Os dados do Banco Mundial trazem um alerta para o desenvolvimento do país: sem educação adequada, e com alto risco de evasão, é possível que a massa de trabalhadores esteja menos qualificada para ajudar o país a crescer.
“Essas pessoas vão trazer um nível de habilidades menor para o mercado, por ter uma formação incompleta, caso consigam completar os estudos. Mas existe ainda uma pressão que alunos mais vulneráveis vão sofrer a mais, que é simplesmente desistir de estudar, e evadir da escola. Aí, muito provavelmente, essa pessoa vai entrar em trabalhos menos qualificados, e a produtividade vai ser menor”, afirma Lautharte.
Com menor instrução e empregos que pagam menos, os alunos de hoje poderão deixar de ganhar US$ 1300 ao ano, justamente pela falha na formação. Com o dólar a R$ 5,59 (cotação desta quarta), o valor chega a R$ 7,2 mil ao ano.
“Se não houvesse pandemia, as pessoas ganharam US$ 1.300 a mais por ano devido ao fato de não ter tido nenhuma ruptura no processo de educação. E R$ 7 mil ao ano para uma família vulnerável é um valor bastante significativo”, alerta Lautharte.
Para Lautharte, o momento é crítico, mas abre uma janela de oportunidades para acelerar mudanças na educação, que estavam sendo adiadas há tempos, como a de melhorar a conectividade dos estudantes.
“A gente está vendo o momento como muito crítico para o desenvolvimento das crianças, em termos de aprendizado. Mas ele também traz a grande mensagem que é ver isso como uma janela de oportunidades. A gente pode realmente antecipar ações, reformas e ideias que estavam sendo postergadas por uma razão ou outra, ou pensando em problemas mais críticos, como conectividade das escolas mais vulneráveis, como entender um sistema híbrido que funcione para todo mundo”, analisa.
“A gente vê que tudo está conectado, não dá para resolver um problema sem resolver o outro ao mesmo tempo”, defende.
“O uso inteligente da tecnologia e dados pode oferecer oportunidades de longo prazo para um aumento da eficiência melhor ensino e aprendizagem para os mais vulneráveis, e o fortalecimento da gestão do setor de educação”, afirma o texto do documento.
As escolas foram fechadas em março de 2020 para conter a transmissão do coronavírus. O primeiro local a decretar a suspensão das aulas presenciais foi o Distrito Federal, em 11 de março. Nas semanas seguintes, todos os estados do país seguiram a mesma recomendação. As férias e feriados escolares foram adiantados, mas a pandemia não deu sinais de que iria sumir.
Mas, um ano depois do fechamento das escolas, quase 6 em cada 10 cidades ainda discutem protocolos de segurança para reabrir as salas de aulas no país.