
A presidente da CAPES, Denise Pires de Carvalho, participou do programa Sala de Convidados, do Canal Saúde, emissora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), na quinta-feira, 20/2. Durante a entrevista, realizada ao vivo, ela abordou sua trajetória como cientista, falou sobre a recriação do Comitê Permanente de Ações Estratégicas e Políticas para Equidade de Gênero da Fundação e sobre disparidades na pós-graduação brasileira.
Denise Pires de Carvalho compartilhou sua experiência como mulher cientista, ressaltando a importância do legado de pesquisadoras que a precederam. “Fui a primeira mulher a dirigir o Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, um enorme desafio. Mas antes de mim, outras mulheres abriram caminho, como minha orientadora desde a iniciação científica, Doris Rosenthal”, destacou.
A presidente também apresentou o Comitê Permanente de Equidade de Gênero, que fortalece a participação feminina na ciência. “O comitê criado como grupo de trabalho em 2018 foi descontinuado, mas em 2024, o retomamos e transformamos em algo permanente, agora um colegiado oficial da CAPES”, explicou. O objetivo é garantir a implementação de políticas para maior equidade, considerando as interseccionalidades de gênero e fatores étinicos raciais.
Outro ponto debatido foi a desigualdade no financiamento da ciência entre as regiões do Brasil. Denise destacou que, apesar de políticas que destinam 30% dos recursos para as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, a concentração de programas de excelência segue no Sul e no Sudeste. “Se já sabemos que as mulheres cientistas recebem menos fomento, imagine uma mulher do Norte ou do Nordeste. A disparidade se agrava ainda mais”, alertou.
Fernanda Staniscuaski, coordenadora do movimento Parent in Science, destacou o “efeito tesoura”, fenômeno em que a presença feminina diminui à medida que avançam na carreira acadêmica. “Mulheres são maioria entre as tituladas desde 1997, mas os cargos de liderança seguem predominantemente masculinos. Além disso, fatores como estereótipos, assédio e a rigidez da carreira acadêmica impactam diretamente a permanência das mulheres na ciência”, pontuou.
A coordenadora de Divulgação Científica da Vice-Presidência de Educação, Informação e Comunicação da Fundação Oswaldo Cruz, Cristina Araripe, reforçou a importância de inspirar jovens mulheres a ingressarem na carreira acadêmica e falou sobre o programa Fiocruz Mulheres e Meninas na Ciência. “Trouxemos meninas para conhecer a história da ciência, destacando o protagonismo feminino e os desafios ainda enfrentados. Muitas mulheres foram invisibilizadas, mas sempre estiveram presentes. Bertha Lutz, por exemplo, revolucionou o país ao lutar pelo voto feminino e pelos direitos das mulheres na ciência”, afirmou.